Sobre o mundo longe do seu umbigo (ou Como perder uma mulher antes de ganhá-la)

Você chegou num momento razoável, com um charme razoável. Até a sua beleza é razoável. E acertou em cheio a hora de ir embora da minha cabeça. Você me quis desde o começo, mas nunca teve coragem de lutar por mim. Sempre achou que quando quisesse alguma coisa comigo - depois do que vocês homens chamam de "tempo" e que se resume em não levar nada à sério por um tempo sem se sentirem culpados - eu estaria aqui, sorrindo plástica, pronta pra me jogar aos seus pés.
Confesso que quando você apareceu, até pensei em ter você. Mas cada queda é um aprendizado, e em alguns dias, cada segundo é uma nova lição. Agora é tarde e eu sou mulher demais pra você. Não preciso dessa sua sabedoria que você usa pra intimidar quem não percebe a superficialidade das suas palavras. Não preciso de nada de você. Só distância. Você encontrou alguém diferente: uma leitora. Eu leio sua dúvida em tudo o que você diz com tanta certeza, porque precisa falar pra existir.
Estou fugindo sim. Me afasto pra não ter que lidar com o seu jeito grudento de quem quer convencer à todos que me tem. Você não tem, nem ao menos uma parte pequena. Não adianta me abraçar pra afastar quem quer se aproximar, eu não gosto disso. Você me incomoda. Tenho aflição de pensar nessa conversa que você insiste em dizer que quer ter comigo. Fico sufocada com seu jeito de querer me segurar, não me venha com essa história de que eu sou pra casar. Já passei por muito na minha vida pra cair em conto de carinha que quer me tranformar em dona de casa. Esse tipo de assunto já foi irresistível pra alguém? Porque em mim, só causa náuseas.
Ainda que você duvide da existência desse meu lado escrito, eu já disse que alguma coisa não é ficção. Se você entrar aqui pra ler, vai ter o desprazer de encontrar uma sinceridade que não conhece em mim. Não fiz questão dos floreios, dessa vez. Das meias palavras, dos termos abstratos... Pra que ser literária se não estou escrevendo pra agradar? Eu escrevo a verdade. Eu vivo e sinto de verdade. Você estava errado e agora eu posso dizer com toda a certeza do mundo. Eu sou sim tudo isso que eu escrevo. Talvez por insegurança eu tenha abaixado a cabeça e concordado com o que você disse, mas pouco me importo agora. Faço minhas escolhas, você já deve ter percebido. Minha insegurança não significa indecisão. E minha mania de expor minhas fraquezas surgiu entre uma conversa ou outra, mas fiz mal em te dar esse espaço que você não soube usar. Eu devia saber que isso se voltaria contra mim, mais uma vez.
Você nunca me teve, e me perdeu pra sempre. Coloquei em palavras para o caso de você não ter entendido nas milhões de vezes que fugi do assunto ou fiz questão de me esconder. Desista, ou eu sumo de vez.